Palestra

Os dirigentes de África deverão voltar a promover, em “bandjas” (reuniões em que as chamadas autoridades gentílicas: Régulos, Mwenés, Anciãos, etc. conversavam com as populações) o diálogo, inexplicavelmente, interrompido com os povos por eles governados. Nestas “bandjas”, eles, os nossos dirigentes africanos, sem deixarem de ser “chefes”, transfiguravam-se em “líderes” (leaders).

A África do pós-independência está enxameada de “chefes”, mas não tem “líderes”. Estamos, hoje em África, carenciados de homens que sejam excelsos condutores da força e vontade das populações para a concretização de um objectivo comum, colectivo, agradável à maioria.

Veja-se o exemplo do treinador, muito famoso, porque bem-sucedido, no mundo do futebol, José Mourinho. Este é dotado de capacidade, por ele auto-construída, de levar os “ponta-peadores” da bola jogada a marcarem o maior número possível de golos na baliza adversária. Ele é dialogante. Ele aprende com os jogadores de futebol o que eles sabem fazer quando têm a bola nos pés.

O líder não precisa ser exímio executante da arte de fazer as pessoas “marcarem golos”. O líder deverá ter a capacidade de pôr as pessoas a executarem com eficiência as tarefas requeridas para a materialização dos objectivos delineados.

Em Moçambique, o Régulo Mataca, na Província do Niassa, notabilizou-se como o líder cujo objectivo central da sua governação no espaço da sua regedoria, como sendo o arauto da luta contra a fome, doença, criminalidade e a morte “zero”. Com a sua liderança, caracterizada por estar sempre em consultas com as massas populares, ele “mobilizou” as suas populações a trabalharem arduamente para o alcance da felicidade da sua comunidade como um todo. “Mutatis mutandis”, África precisa de voltar a ter muitos Régulos Mataca!

E outro pecado de África: nós gostamos, doentiamente, de receber ordens de Londres, Bruxelas, Paris, Lisboa, Washington, e quejandas capitais estrangeiras. Urge que os nossos líderes se libertem psicologicamente desta necessidade mórbida de dependência daquelas suas antigas metrópoles colonizadoras e imperialistas.

Os libertadores do nosso continente do jugo colonial, eram dotados de tal sentido e capacidade de liderança que levaram os povos africanos a livrarem-se do colonialismo. Tivemos, nesta qualidade, uma plêiade de valorosos homens que assumiram as lideranças dos nossos processos libertários. Mondlane, Nkhurumah, Nyerere, Samora, Kaunda, Sekou Touré, Mugabe, etc. Estes homens, nossos líderes, assumiram a condução das vontades das populações, que estavam claras quanto ao que pretendiam: libertarem-se da subjugação territorial, física, económica e psicológica dos colonialistas. Estas nossas antigas lideranças africanas foram bem-sucedidas, porque viviam com o Povo no qual bebiam a sua sabedoria porque o diálogo com esta era ininterrupta. Só o Povo que sofre na carne e espírito porque lhe falta comida, saúde, roupa, trabalho e emprego, habitação, educação, segurança saberá elucidar ao seu dirigente quais são os melhores meios para o alcance daquele nobre desideratum.

Um dignitário de relevo da nossa governação de proa iniciou nesta Quinta-Feira, 26 de Outubro de 2023, numa Universidade da Beira, um rico diálogo, com o formato de palestra, com a academia. Saudemo-lo, para o seu encorajamento, visando a sua continuidade este tipo de iniciativa. Falar com o Povo. Não somente fazer comícios dos “viva/viva” para e com o Povo.

Precisamos de uma governação ainda mais aberta que, amiúde, volte a conversar com os operários, machambeiros, empresários, artesãos, chapeiros, soldados, mukeristas, com as donas de casa, enfim, com todos os governados. Na base encontrar-se-ão propostas de soluções práticas e realistas acerca dos problemas vividos no quotidiano das populações. Afinal a boa governação é aquela que verte soluções excelentes na qualidade de vida das pessoas governadas. Quero – apenas para terminar – recordar que o recipiente de qualquer bom programa de governação é, por excelência, o POVO.

Felicito o dirigente da nossa governação de proa pelo diálogo, em forma de palestra, hoje, 26/10/2023, realizado numa Universidade na Cidade da Beira. Parabéns! O POVO quer mais! O POVO precisa deste tipo de interacção com os seus dirigentes de cúpula e de todos os níveis de governação.

O dirigente de África deverá precisar de estar com o POVO, tal como o peixe necessita de água para sobreviver.

O POVO é e continuará sempre sábio!

ANTÓNIO MATABELE *

*  Economista

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 26 de Outubro de 2023, na rubrica de opinião denominada N’siripwiti – gato do mato

Caso esteja interessado em passar a receber o PDF do Redactorfavor ligar para 844101414 ou envie e-mail para correiodamanha@tvcabo.co.mz 

Também pode optar por pedir a edição do seu interesse através de uma mensagem via WhatsApp (84 3085360), enviando, primeiro, por mPesa, para esse mesmo número, 50 meticais ou pagando pelo paypal associado ao refinaldo@gmail.com

Gratos pela preferência

https://rb.gy/21ujt

Compartilhe o conhecimento
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *