Redução de danos: tabaco

Redução de danos – Organizado pela “Integra África”, em colaboração com a Philip Morris International (PMI), uma das maiores empresas de produtos de tabaco do mundo, o evento teve como lema a “Redução de danos como estratégia vencedora em África”. O intercâmbio visava promover um diálogo aberto sobre o conceito de redução de danos em toda a África. A redução de danos refere-se a políticas, programas e práticas que visam minimizar os impactos negativos à saúde, sociais e legais associados ao uso do tabaco.

Um dos principais posicionamentos resultantes do debate é a necessidade de uma regulamentação baseada em evidências, em oposição à proibição de produtos alternativos de risco reduzido. É entendimento dos especialistas que a África, tal como o mundo inteiro, deve caminhar no sentido de reforçar as evidências de progresso na saúde pública e aceitação de alternativas melhores e mais seguras para reguladores e consumidores.

Ainda mais quando se reconhece que populações saudáveis ​​são a espinha dorsal para economias sustentáveis – elas são mais produtivas e menos caras tanto para os empregadores quanto para os sistemas de saúde. Estima-se que as reduções de doenças e mortalidade sejam responsáveis ​​por cerca de 11% do crescimento económico em países de baixa e média renda, conforme medido em suas contas de renda nacional. No entanto, a saúde, muitas vezes, ainda é vista como um custo e não como um investimento.

Ao longo das últimas décadas, através de melhores opções diagnósticas e terapêuticas, a saúde experimentou uma revolução em termos de soluções e alternativas inovadoras projectadas para melhorar a expectativa e a qualidade de vida, o que poderia ter impacto extremamente positivo na redução do alto número de doenças e mortes causadas por produtos nocivos.

Imane Kendili – Marrocos

Imane Kendili é uma voz autorizada na matéria. Além de especialista na área do vício em drogas e comportamento, é autora do livro “O Manifesto da Redução de Danos”, presidente da Associação Marroquina de Medicina Aditiva e Patologias Associadas e vice-presidente do Centro Africano de Pesquisa em Saúde.

Foi uma das oradoras do intercâmbio e, a partir de Marrocos, apresentou a sua visão sobre como atacar a redução de danos, particularmente em África.

Imane Kendili referiu-se à importância da redução dos danos associados ao tabaco pelo seu efeito na saúde pública e, consequentemente, melhoria da saúde das pessoas. Defendeu a necessidade de os países africanos apostarem na prevenção, desse modo evitando que as pessoas contraiam o vício do fumo. Contudo, chamou a atenção para que não se julguem os que fumam, dado que isso não funciona. Pelo contrário, é preciso disponibilizar meios alternativos para reduzir riscos.

Aliás, para a especialista, a melhor forma não é sequer não ter comportamento de risco, mas sim ter uma solução óptima. Uma solução óptima, referiu, é aquela que deve estar centrada nas pessoas, reconhecendo a existência de várias reacções.

Deu o exemplo do período da pandemia da Covid-19, assinalando que a experiência mostrou que a melhor estratégia é lidar com o comportamento das pessoas, ao invés de julgá-las ou impor proibições. Entende que o combate à Covid-19 está a passar pela mobilização das pessoas para a causa da redução de risco das contaminações, por exemplo usando máscaras, tomando vacinas e mantendo distanciamento social.

Por isso, prosseguiu, em relação ao tabaco, é preciso, também, dar boas opções ou alternativas às pessoas, de modo que sejam menos expostas aos riscos. Imane Kendili vê na actual pandemia uma oportunidade para a África rever a sua abordagem de modo a engajar mais as pessoas na redução dos danos, ainda mais quando o continente tem os mais deficientes sistemas de saúde, com infra-estruturas sanitárias disfuncionais e os mais baixos orçamentos para a saúde.

Anotou, ainda, que a Covid-19 também está a mostrar que nem sempre é uma questão de ter boas infra-estruturas ou tecnologia de saúde – quando até países do primeiro mundo colapsaram perante a pandemia – mas sim uma abordagem no comportamento, que deve envolver mais pessoas na prevenção e redução de riscos.

Ela defende a massificação da prevenção entre a juventude, falando com os jovens sobre uso do tabaco e outros produtos aditivos, tudo na perspectiva de ajudar a reduzir o risco e ter baixo impacto sobre a sua saúde.

Precisou, por outro lado, que é preciso começar-se a pensar no conceito de redução de riscos não só em relação ao tabaco, mas também em todas as áreas da vida humana, dados os seus benefícios para o bem-estar, ainda mais numa situação de dificuldades financeiras, como as que o continente enfrenta.

David Khayat – França

David Khayat é oncologista francês. Desde 1990 que é chefe do Departamento de Oncologia Médica do Hospital Pitié-Salpêtrière. Também é professor de oncologia na Universidade Pierre e Marie Curie e professor adjunto do MD Anderson Cancer Center em Houston, Texas. Em 2013 foi eleito para o Conselho da Sociedade Americana de Oncologia Clínica. Organizador da Cúpula Mundial contra o Cancro na UNESCO, iniciou a Carta de Paris contra o Cancro e, entre Abril de 2004 e Setembro de 2006, dirigiu o Instituto Nacional Francês do Cancro, de que hoje é presidente honorário. Actualmente é também consultor da Philip Morris International, a favor de produtos de tabaco aquecido.

Khayat assinalou a realização do intercâmbio sobre a redução de danos associados ao tabaco, em África, referindo que o continente será o lugar no mundo onde terá de se trabalhar profundamente para a redução de riscos.

Entende também que são erradas as medidas proibitivas, sugerindo que África pode adoptar melhores estratégias, que passam por disponibilizar produtos de risco modificado.

Acrescentou que na França, por exemplo, apesar dos esforços feitos para que as pessoas deixassem de fumar, nos últimos anos, muitas delas reassumiram o vício. Foi por isso, explicou, que decidiu se envolver, pessoalmente, na luta contra o fumo, mas com uma nova visão – a redução de danos.

E o seu ponto de partida é que é preciso reconhecer que certos comportamentos são inevitáveis. Só reconhecendo isso é que se pode adoptar melhores estratégias, porque a proibição, essa simplesmente não funciona.

Todas as políticas de proibição falharam, admitiu o especialista envolvido em várias frentes mundiais pelo fim do fumo, assinalando que muitas pessoas continuam a morrer pelo fumo. Deu o exemplo do FCTC, a convenção global que entrou em vigor em 20005, que incluía medidas proibitivas para estancar a crescente epidemia do tabagismo, mas que não funcionou.

Por isso, a resposta de David Khayat às proibições é “não” e mais “não”. Khayat não tem dúvidas de que parar de fumar é, claramente, a melhor opção, mas sabe que não é fácil. Por isso, defende, o conceito de redução de danos significa que aqueles que não podem parar de fumar possam, então, encontrar melhores alternativas, para minimizar riscos, incluindo o desenvolvimento de cancro.

Aliás, o oncologista explicou que fumar é uma das razões para as doenças cancerígenas, enquanto o aquecimento do tabaco com produtos de riscos reduzidos (como o IQOS da PMI) não gera produtos cancerígenos.

Parar de fumar é, de longe, a melhor opção. Mas a inovação, como alternativa menos nociva, pode desempenhar um papel na redução de danos”, enfatizou.

Moussa Diallo – Senegal

Por sua vez, Moussa Diallo é, desde 2000, chefe do Departamento de Dermatologia na Alta Autoridade para o Combate à Discriminação e para a Igualdade, no Senegal. É o único especialista em anatomia patológica no país. Diallo, um forte defensor da redução de danos, falou da redução de danos usando exemplos da área dermatológica.

Defendeu a necessidade de tornar a redução de danos uma estratégia africana para lidar com doenças de fórum dermatológico. De acordo com o especialista, a redução de riscos favorece a redução de prejuízos de fórum dermatológico, sua área de especialização.

O seu exemplo foi o uso de produtos químicos na pele, uma prática comum sobretudo entre as mulheres, que recorrem a esses produtos para clarear a pele. Mas, afinal, explicou Moussa Dialo, a aplicação desses produtos é tão nociva à pele quanto o fumo ao organismo.

A prática, a que descreveu de alta prevalência em África, quando as mulheres até chegam a aplicar os produtos químicos sobre a pele duas vezes ao dia, pode resultar em cancro da pele.

No Senegal, por exemplo, uma percentagem considerável de mulheres que se dirigem aos serviços de dermatologia apresenta problemas resultantes da aplicação desses produtos, incluindo infecções graves, algumas das quais irreversíveis. Aliás, durante a sua apresentação, o especialista senegalês partilhou imagens horríveis de pessoas, na sua maioria mulheres, com corpos simplesmente danificados por estes produtos, com profundas queimaduras sobre a pele.

Por isso, defendeu, uma das lutas para África é sensibilizar as pessoas a não iniciarem o uso de químicos sobre o seu organismo e sensibilizar os que iniciaram a parar, como forma de conter os prejuízos desta prática. Trata-se de uma abordagem que deve ser transdisciplinar, incluindo a necessidade de apoiar, psicologicamente, os que precisam de parar.

Seu argumento central é de que o uso desses produtos químicos na pele é igual ao consumo de álcool ou tabaco, apresentando sérias complicações médicas. Não é, por isso, uma questão de dizer às pessoas para pararem, mas indicar soluções alternativas e mais saudáveis, alinhou.

Além de defender a necessidade de valorizar a pele negra, Moussa Diallo disse que existem produtos naturais e com maior qualidade, que até podem dar clareza, mas sem efeitos nefastos para a saúde. (Redução de danos: tabaco)

PMI

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