Riqueza

A verdade não andaria muito arredia de nós se disséssemos que a riqueza é o somatório de todo o património global ou universal de uma entidade colectiva ou individual. Falando em linguagem económica é o património activo expurgado do passivo. Se quisermos utilizar a designação consagrada na disciplina de contabilidade diria que a situação líquida positiva de alguém.

No nosso muito falado idioma nacional e internacional, o macua, diz-se que é “muhakhu”, na acepção mais lata do termo. Porque ele, em sentido restrito, naquela nossa língua também moçambicana pode significar dinheiro: “muthu ole ohana muhakhu” (aquela pessoa tem dinheiro). Mas vamos falar do “muhakhu” naquele seu sentido mais abrangente. O da riqueza, aquele que é uma das condições quase “sine qua non” para que haja desenvolvimento global – completo – numa sociedade humana.

Em 1982, fazendo uma consultoria em Angónia, para o então Complexo Agro-Pecuário da Angónia, o saudoso director-geral do mesmo, Lourenço Mutaca, falando-me em lomwé, língua aparentada do macua, ensinou-me que naquela parcela da província de Tete havia tanta riqueza que até os cães vadios eram gordos. Os restos de comida jogados ao lixo com os quais os poucos canídeos de rua se alimentavam eram fartos.

O meu amigo PCC, fundador dissidente da nossa AMECON – Associação Moçambicana de Economistas – que ficou triste ao ver a sua proposta de nome “MUHAKHU” para a nossa agremiação sócio-profissional a ser chumbada em assembleia geral, criticar-me-á dizendo que estou a “confusionar” o conceito de riqueza com o muhakhu.

Mas a questão de fundo é que riqueza é o património tangível e não tangível de uma pessoa colectiva ou singular.

Riqueza é a situação referente à abundância na posse de bens materiais (dinheiro, propriedades móveis, imóveis e semoventes) e imateriais (conhecimento, sabedoria, arte).

Porque não tenho a pretensão de pensar que o conteúdo desta reflexão é bastante para elucidar os meus leitores acerca do que é riqueza, aconselho que voltemos a ler o que sobre este assunto nos ensina Adam Smith, considerado o “pai” da economia moderna. Com efeito, ele diz na sua obra magistral “A Riqueza da Nações”, publicada em 1776 que a prosperidade de uma nação está intimamente ligada à sua capacidade de promover o livre mercado, em sua opinião o único gerador da riqueza. Para ele o trabalho é a principal fonte de riqueza de uma nação e defende a divisão do trabalho como um meio eficiente de aumentar a produtividade. Ele descreve como a divisão do trabalho, combinada com a especialização, leva a um aumento da produção e, consequentemente, ao crescimento económico. O autor também introduz o conceito de “mão invisível”, afirmando que os indivíduos, em busca de seus próprios interesses egoístas no mercado, acabam promovendo o bem-estar geral da sociedade. Segundo Smith, quando os indivíduos buscam maximizar seus próprios lucros, eles são levados a fornecer bens e serviços que atendam às necessidades e demandas dos consumidores, levando a uma alocação eficiente dos recursos”. (Google, 29/02/2024)

ANTÓNIO MATABELE *

*   Economista

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 04 de Março de 2024, na rubrica de opinião denominada N’siripwiti – gato do mato.

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