Ser muito rico

Ser muito rico – As pessoas passam grande parte da vida correndo atrás de um sonho: mudar para um apartamento maior com três quartos, dois banheiros, e se tiver playground e piscina no prédio, é a felicidade total.
Para os muitos ricos isso não é nada. Casa de rico tem coisa que até Deus duvida: sala de jantar para ocasiões formais, sala de almoço para o dia-a-dia, biblioteca para conversas privadas, uma sala pequena e íntima para ler os jornais e tomar o café da manhã, e salas e mais salas, que só são ocupadas, aliás, em dias de grandes festas. Mesmo ficando dois, três meses sem ninguém entrar, os cinzeiros e porta-retratos de prata brilham, e os potinhos com chocolate estão sempre regularmente cheios.
Nessas casas, são várias geladeiras: uma para frutas e doces, outra para os legumes, a dos vinhos, freezer para carnes e freezer para produtos vindos directamente do mar.
Quem cuida de tudo isso? A dona da casa? Só se tiver feito um curso de administração de empresas e de culinária, fora o de psicologia. Lidar com tanta gente, administrar a tensão de dez, 15 empregados não é tarefa para qualquer um.
Pensar em como vivem essas pessoas me intriga: quem faz as compras? E, dá para saber que quem faz as compras é honesta, que vinte pés de alface por semana é o consumo normal, ou 17 seria o suficiente? Feira/mercado vulgar, todo mundo sabe, não fornece recibo.
Deve ser um problema ser muito rico. Como saber, quando um dos motoristas diz que está na hora de trocar o óleo de um dos carros, se é verdade mesmo ou se o recibo é um acerto entre ele e o dono do posto?
Os ricos de gosto mais tradicional costumam ter dezenas de meias pretas importadas, claro. Será que alguém conta, toda semana, para ver se está faltando alguma? E se estiver, será que ele percebe? E os sabonetes, pastas de dentes, desodorantes, que devem ser comprados em quantidade industrial, ficam no armário trancados a chave? E quem guarda a chave?
Difícil também deve ser na hora do jantar. Será que os muito ricos sabem o que vão comer ou é sempre uma surpresa do cozinheiro? Se em qualquer botequim do subúrbio o cliente tem o direito de escolher entre um mocotó ou uma dobradinha com feijão-branco, os ricos também têm esse direito, ou seria o que se chama injustiça social.
Mas a maior dificuldade deve ser, depois de um dia de trabalho, chegar em casa, tomar banho e escolher em que sala vai ficar. Na de chintz estampado ou naquela de sofá listrado? No jardim de inverno ou na varanda com vista para a piscina? Um problema.
Um dia eu tive coragem e resolvi pesquisar com um milionário que conheço: perguntei, na lata, como é que ele faz, nessa situação que se repete todos os dias, e a resposta veio clara e simples.
Como sua casa é imensa, o quarto de dormir também é imenso, e nele o decorador  – sábio – colocou uma grande televisão, os sons, os discos mais queridos, uma bandeja com uísque e vodka e uma geladeirinha para refrigerantes , chocolate e gelo. Aí ele liga para a cozinha pelo interfone e pede o jantar no quarto, numa bandeja. Come vendo televisão, depois ouve um disco, lê um livro e dorme sem nem se lembrar que o resto da casa existe—igualzinho aos pobres.
Você que sonha com um apartamento igual ao dos ricos, aprenda mais esta: ninguém precisa de mais do que um conjugado para ser feliz.
Nem eles.

Danuza Leão

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 18 de Outubro de 2018 no espaço de OPINIÃO

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