Sustentabilidade

Sustentabilidade A questão da sustentabilidade deve estar presente em todos os processos de planificação empresarial, como forma de garantir que as constantes mudanças que ocorrem no ambiente externo não sejam motivo para o colapso.

Esta constatação foi feita durante um webinar no dia 5 de Maio, no qual participaram especialistas de vários sectores em representação de diferentes empresas, com particular destaque para a indústria do tabaco.

Sob o lema “Liderança Num Mundo Sustentável”, o webinar enquadra-se no foco sobre a sustentabilidade empresarial, e foi moderado por Adrian Payne, um consultor sénior em matéria de responsabilidade social corporativa.

Em termos empresariais, a sustentabilidade é definida como sendo a capacidade de impedir que recursos naturais e físicos essenciais para um determinado segmento de negócio se esgotem e ponham em causa a continuidade das suas operações a longo prazo. De uma maneira geral, esta sustentabilidade assenta em cinco pilares que abarcam questões económicas, sociais, ambientais, culturais e de segurança.

A primeira nota de abertura foi feita por Pippa Bailey, especialista em mudanças climáticas e práticas de sustentabilidade no Instituto Ipsos, que começou por dizer que é um facto reconhecido mundialmente, que “caminhamos para um desastre ambiental, a menos que alteremos os nossos hábitos”.

O entendimento é de que as mudanças climáticas são um dos principais elementos que devem ser tomados em conta quando se pretende abordar a questão da sustentabilidade, dado que elas condicionam a maneira como a humanidade vive e trabalha, afectando, por isso, todas as esferas da vida.

Bailey abordou o que considerou serem as principais preocupações, percepções e atitudes dos cidadãos em todo o mundo sobre o impacto das mudanças climáticas, e como estes factores podem ser usados para garantir a sustentabilidade das organizações. 

Sublinhou que dentro das maiores preocupações com o meio ambiente, particular destaque vai para a questão do plástico e das embalagens.

“Há muitas notícias, muita cobertura nas redes sociais, muitos documentários e imagens sobre o lixo plástico”, disse. “É um tipo de embalagem que é tangível e podemos vê-lo a crescer, vemo-lo na costa dos países para onde estas embalagens são enviadas, e isso leva as pessoas a sentirem a necessidade de terem de fazer alguma coisa para combater o plástico”.

Apontou também as beatas de cigarros como sendo o maior produto de lixo no planeta, sublinhando que liderança e inovação eram necessárias para lidar com o problema.

O grande desafio, de acordo com Bailey, é fazer com que o sector empresarial e os governos facilitem o entendimento do público sobre o que mais deve ser feito para provocar mudanças e responder positivamente às questões do meio ambiente, do desenvolvimento social e das boas práticas de governação.

Para Erick Bloomquist, um consultor independente em matéria de investimento, a principal prioridade para a indústria do tabaco é a transição a favor de produtos menos nocivos.

Referiu-se ao Índice de Transformação da Fundação para um Mundo Livre do Tabaco, mostrando que as vendas e o investimento de capital são duas das mais importantes categorias para os investidores, por estes acreditarem que podem trazer melhores retornos no futuro.

O painel principal foi constituído por quatro oradores que fizeram abordagens diferentes sobre a problemática da sustentabilidade nos seus respectivos sectores.

De acordo com Sarah Bostwick Stromoski, Directora da Philip Morris Intenrational (PMI) para a Sustentabilidade e Envolvimento de Parceiros, a sustentabilidade passa pela eliminação do consumo e fim do fabrico de cigarros, bem como pela edificação de um novo modelo de negócio que gire em torno da saúde e bem-estar.

Nesse contexto, Stromoski disse ser plano da PMI que por volta de 2025 esteja em condições de gerar cerca de 1 bilião de dólares com base em produtos alternativos ao tabaco de queima.

Contudo, Stromoski sublinhou que o maior segredo em tudo o que as empresas fazem deve basear-se na transparência e na capacidade de definir prioridades. Uma das prioridades da PMI é garantir que agricultores subcontratados pela empresa tenham rendimentos considerados dignos e aceitáveis

“A transparência é o primeiro passo para a construção da confiança”, disse Stromoski, sublinhando que a confiança é necessária para que os consumidores tenham a certeza de que os produtos que consomem foram produzidos em conformidade com os padrões exigidos pela indústria.

Acrescentou que para garantir a sustentabilidade, as empresas devem concentrar-se nas suas principais áreas de actuação, as quais devem ser medidas em função do seu impacto sobre as mudanças climáticas, inovação, direitos humanos, biodiversidade, desenvolvimento do capital humano e governação.

Acrescentou que a PMI continuará a avaliar de forma abrangente a sua performance sobre estes indicadores, sendo que para tal “convidamos todas as partes interessadas a sujeitar as nossas actividades ao escrutínio, em conformidade com o nosso maior objectivo de um mundo sem fumo”.

A PMI está a desenvolver esforços com vista a transformar a indústria de tabaco, o que a multinacional espera que irá eventualmente culminar com o fim do consumo de cigarros, e a adopção de práticas menos nocivas à saúde.

Nesse processo, Stromoski sublinhou que a PMI está envolvida em iniciativas de engajamento com os parceiros externos da empresa, que por sua vez podem influenciar a opinião pública no sentido de provocar mudanças de políticas e no campo regulatório.

Para Ronald Ngwira, Director Executivo da Pyxus, uma empresa agrícola do Malawi que também se dedica ao cultivo de tabaco, a sustentabilidade assenta em acções viradas para a protecção do meio ambiente, apoio ao desenvolvimento social da comunidade e na aplicação de modelos de governação que contribuam para a inclusão. 

No pilar sobre o meio ambiente, as acções da empresa incluem uma boa e responsável gestão da água, minimização de desperdícios através da reciclagem e apoio à aplicação de melhores métodos de cultivo da terra por parte das comunidades locais.

Quanto ao desenvolvimento social, as acções da Pyxus Agriculture Malawi estão centradas no desenvolvimento de iniciativas nas áreas da educação, saúde e segurança no trabalho, disseminação de boas práticas laborais na cadeia de valor na agricultura e o melhoramento das condições gerais de vida dos camponeses.

Para ajudar a combater a mão-de-obra infantil, muito prevalecente no sector da agricultura no Malawi, Ngwira disse que a Pyxus abriu 34 escolas.

No capítulo da governação, Ngwira defende a importância do respeito pela ética, assim como a necessidade de as empresas aderirem escrupulosamente aos padrões definidos para o seu ramo, praticarem métodos responsáveis de comercialização dos seus produtos ou serviços e participarem na educação dos seus consumidores. 

Ngwira disse que “a sustentabilidade deve ser implementada em toda a cadeia de valor”. Acrescentou que para o alcance destes objectivos requer-se uma boa liderança, e que se “a liderança não mudar então é melhor mudar a liderança”, porque o custo de não fazer nada no presente será maior no futuro.

Karen Hall, Directora de Sustentabilidade da Universal Leaf Corporation, debruçou-se sobre a questão da resiliência e a sua relação com a transformação do negócio, à medida que tal afecta questões sociais e ambientais na cadeia de distribuição.

Hall defende que a sustentabilidade do sector do tabaco dependerá da capacidade da indústria de garantir rendimentos positivos para os pequenos agricultores que produzem esta cultura sob contrato com as grandes empresas tabaqueiras, combater a mão-de-obra infantil, assegurar uma boa qualidade de saúde e de segurança no trabalho, e fazer com que os pequenos produtores tenham literacia financeira.

Ela fez uma abordagem sobre o potencial impacto das mudanças climáticas na agricultura, sublinhando que o fenómeno poderá tornar algumas culturas mais ou menos viáveis em diferentes regiões.

Nesse sentido, diz Hall, a resiliência em determinadas regiões “será a chave para a produção sustentável de tabaco”, sendo por isso necessário continuar a implementar práticas que aumentem a capacidade de adaptação das culturas.

Hall disse que a estrutura da estratégia de sustentabilidade da Universal Leaf Corporation baseia-se em quatro vectores. O primeiro é a revisão da actual resiliência das origens da empresa face às mudanças no plano global. O segundo é a criação de objectivos ambiciosos, mas alcançáveis; em terceiro lugar, está a implementação de planos de acção baseados em dados, de modo a alcançar os objectivos traçados de uma forma eficiente e eficaz; e finalmente, “prepararmo-nos para ajustar a nossa estratégia, à medida que novas informações vão surgindo”.

O quarto membro do painel foi Liem Khe Fung, Director dos Serviços de Inovação da BMJ, uma empresa especializada na produção de papel e embalagens, localizada em Karawang, na Indonésia.

Criada em 1990, a BMJ é a terceira maior empresa deste ramo no mundo, fornecendo cerca de 10% de todas as necessidades em termos de papel para a indústria do tabaco.

Fung considera que a sustentabilidade é um factor determinante para a competitividade de qualquer empresa, acrescentando que “nenhuma empresa poderá sobreviver nos próximos 10-15 anos sem uma boa estratégia de sustentabilidade”, assim como os esforços para a implementar.

Sublinhou que a sustentabilidade na indústria do papel deve ser entendida em termos do contínuo acesso à água, que segundo as suas palavras, é “uma questão de vida e de morte”.

“A produção de papel exige muita água limpa”, disse Fung, explicando que até 99,9% do material de mistura no processo de movimentação da rotativa é água, que também é necessária para a geração de vapor, durante a secagem.

Como forma de reduzir a grande dependência em relação à água, perante uma realidade em que este recurso se torna cada vez mais escasso, Fung disse que a BMJ tem estado a envidar esforços para a reutilização ou reciclagem de água, a par da introdução de novas tecnologias que consomem menos água.

“Actualmente, 20% das necessidades da BMJ em água (300 metros cúbicos por hora) vêm de água reciclada”, disse Fung, acrescentando que o objectivo é garantir que até ao fim deste ano, este rácio passe para 50%. O desafio para a BMJ é garantir que os custos envolvidos na reciclagem da água não ponham em causa a competitividade da empresa.

PMI

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