Uma esquina, um agente

Uma esquina, um agente. É uma reflexão profunda que fiz meses a fio sem, no entanto, entender exactamente. Esta situação faz-me repensar o que se vive na província de Nampula, onde quase todos os funcionários públicos na sua maioria professores se empenham em fazer táximota. Ou seja, a sala de aula foi trocada por uma mota e um serviço extracurricular.

Seria mau? Não, pelo contrário. Estes senhores informais fazem andar a economia deste país, lamento quando vejo alguns fardados do município perseguindo os seus irmãos para arrancar-lhes um pouco do seu sustento.

Vamos aos agentes. Não me refiro aos agentes da PRM (Polícia da República de Moçambique), mas aos agentes operadores de telefonia móvel. Vejo estes cidadãos lutando contra a vida e transpirando em nome da família e da economia moçambicana.

Vejo estes cidadãos comparando-os com o filme do TITANIC. Enquanto o Titanic afundava no alto-mar, submergia lentamente e de forma desesperada. Os agentes nas esquinas lutam contra a vida, submergidos pelas dívidas, contas a pagar, família por alimentar, casa para pagar, enfim. Não têm mais nada se não enfrentar a dor da desgovernação, onde as políticas públicas são rasgadas com o nepotismo.

Por vezes cobramos essas pessoas para discutirem assuntos do país. Um que luta contra a fome, a miséria, a incerteza do futuro, a insegurança, o desabrigo não tem condições para discutir assuntos públicos. Só discute assuntos públicos quem resolveu os assuntos privados.

Infelizmente, em África ainda lutamos contra a fome e a miséria. Noutros países, as pessoas discutem sobre o glúten nos alimentos. Eles já estão no nível em que a fome não mais faz parte da agenda, mas a boa alimentação e a tranquilidade. Daqui a dez anos, a África estará mergulhada numa fome jamais vista. Os cidadãos não produzirão nada devido à incerteza e à repugnância contra os seus líderes.  

Sobre os agentes: eles fazem um trabalho fenomenal, que ajuda as pessoas nas transacções dos valores. Entretanto, num país paupérrimo, é perigoso levantar valores altos a céu aberto. Não se sabe quem é o agente com quem levanta os valores, qual a sua conduta, com quem ele anda, etc. Se até nos bancos há assaltos, imagina na rua.

Com a miséria que temos que instigou a prostituição, torna-se arriscado levantar valores altos nos agentes. Um dia cada um terá lembranças dolorosas depois de arrancado o seu único dinheiro, chorando amarga e desesperadamente.

Quando forem a levantar os valores, tirem pouco em cada agente. Se um pobre não pode fazer política, imagine um miserável que mexe dinheiro. Se um iletrado não pode ler, já imaginou um desdinherado a mexer dinheiro? Imagine uma pessoa que nunca sonhou em ter carro, alguém lhe dá, como fica?

Mas também me pergunto: qual a finalidade daquela actividade? Serem ricos ou apenas manter as suas famílias com alimentação? Verdade ou não, as pessoas estão submersas no desespero, na irracionalidade, na miséria e, por isso, tudo o que os vier à frente, fazem na tentativa de “um dia algo vai dar certo”.

Não é o povo que tem problemas neste país, são os governantes, os parlamentares que apenas vivem elogiando os seus líderes, em vez de lutar a favor do povo. Os culpados são os que tomam as decisões ao não se sentirem sensibilizados com a dor de outrem.

Quer ser agente? Tudo bem. Mas faça tudo com um objetivo em mente!

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

Este artigo foi publicado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 19 de Abril de 2024, na rubrica OPINIÃO.

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