Censo eleitoral e indumentária
Indumentária – Salvo erro, desde que se realizam eleições pluralistas em Moçambique logo a seguir há uma tensão política, não raras vezes a resvalar para refregas militares.
Em todos esses eventos, há, sempre, um acusado, melhor dizendo, uma dupla de acusados: Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Quando a disputa se precipita para o campo militar não faltam mortes e destruições, mas já quando isso acontece, não mais se fala do STAE e da CNE e as “baterias” são viradas para os políticos e responsáveis castrenses dos contendores habituais: Frelimo/Governo e Renamo.
Depois, sobre cadáveres, escombros e destroços, os dirigentes máximos destes dois contendores de sempre assinam acordos, trocam abraços e bebem a rodos em mesas bem fartas e não há mais responsáveis pelos estragos e luto.
Estamos a passos largos rumo a mais dois pleitos – Outubro deste 2018 e um ano depois – e, desta vez, o STAE e a CNE são referenciados, obviamente pela negativa, na fase pré-eleitoral, fertilizando o terreno para protestos e prováveis protestos/conflitos pós-eleitorais.
A semana que termina foi rica em acusações aos OGE moçambicanos – diga-se, já de si de má fama – até pelos motivos mais que caricatos: indumentária e extorsão!
Felisberto Naife, o director geral do STAE, é citado pela Agência de Informação de Moçambique (AIM) como tendo emitido uma instrução para os agentes de recenseamento não se preocuparem com as vestes dos potenciais eleitores e fazer o seu trabalho, mas, pela insistência das alegações da prevalência dessas atitudes, tudo indica que se está perante um ambiente de desordens/desacatos.
Agora, essa de se exigir “samoras” (dinheiro) aos interessados em se recensear não lembra ao diabo e há que pôr ordem no processo, sob o risco de, depois, qualquer contestação dos resultados ser legítima, mesmo que bizarra, já que tudo de forma bizarra prossegue, mesmo na capital do país e a escassos metros da sede do STAE/CNE.
REFINALDO CHILENGUE
Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 27 de Abril de 2018, na rubrica semanal TIKO 15!
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