Comunidade de Olinda desiludida com a Africa Great Wall Mining

Mais de 80 famílias reassentadas na Ilha de Olinda, distrito costeiro de Inhassunge, na província central moçambicana da Zambézia, afirmam que não vêem vantagem alguma da exploração de areias pesadas na sua zona por uma empresa chinesa que, para se estabelecer, já passam quatro anos, lhes acenou com uma lista de promessas que nunca passaram disso.

Mesmo as casas providenciadas em 2022 pela Africa Great Wall Mining Development Company, Lda., no âmbito do já tristemente célebre “reassentamento das comunidades”, são uma lástima, porque, inclusivamente, de forma precoce, já exibem rachas nas suas paredes e quando chove os respectivos tectos viram verdadeiros “chuveiros”.

A estas e outras reclamações, apresentadas ao jornal Redactor pelos residentes da Ilha de Olinda, juntam-se a falta de abastecimento de água potável e de energia eléctrica.

“Esta é uma empresa que faz muito dinheiro, mas nós, como comunidade, não vemos benefício algum para nós. Primeiro usaram a força para expropriar as nossas terras; hoje, para lograrmos alguma coisa, temos de nos envolver em revoltas”, lamentou Luís Salimo, líder de Mualane, na ilha de Olinda.

Local onde a comunidade de Olinda retira a água para o consumo

Manuel Azevedo, um dos reassentados em Olinda, diz que a água providenciada pela Africa Great Wall Mining Development Company, Lda., é salobre e a alternativa dos que para ali foram “largados” é recorrer à água dos poços e/ou rios.

“Aqui em Olinda estamos mal, viver aqui é difícil, a água que a empresa nos dá é salobre e intragável. Ficamos sem saber se temos Governo ou não, porque os que dizem que são do Governo não nos defendem quando precisamos, não nos ajudam em nada, somos obrigados a subir e descer dunas ou mesmo montanhas em busca de água nos poços e rios”, prosseguiu Salimo.

O líder comunitário frisa que, em nome da sua comunidade, debalde, pediu a quem de direito para que ao menos abrissem uma via por entre as dunas por forma a minimizar o sofrimento das pessoas que as devem escalar em busca de água. “Até agora nada. Ninguém nos dá ouvidos”.

Luís Salimo, líder comunitário de Mualane, na ilha de Olinda

Benjamim Alberto, também reassentado em Olinda, afirma que os residentes naquela ilha clamam por socorro para deixarem de partilhar a água dos poços e rios com animais selvagens e domésticos.

“A água que a empresa mineira nos fornece é salobre. Tratam-nos como se fôssemos animais rafeiros. De onde nos retiraram tínhamos água dos poços, mas de boa qualidade. Renovamos o nosso pedido ao Governo para que nos acuda, pelo menos no que à questão da água diz respeito, porque nem para lavar a roupa serve”, clama Benjamim Alberto.

Bernardo Cutene, Administrador de Inhassunge

No final de 2020, a empresa terá publicado nas suas plataformas digitais que, no âmbito da sua responsabilidade social, investiu cerca de 1,5 milhão de USD para a construção de uma rede de distribuição de energia eléctrica com cerca de 17 km de extensão nas localidades de Cherimane e Olinda e que beneficiaria cerca de 1700 pessoas. Todavia, a comunidade afirma que, para além de contadores, energia propriamente dita é uma miragem até hoje, porque nem sequer postes foram implantados.

De acordo com Bernardo Vitorino, outro “reassentado”, a energia referenciada pela Africa Great Wall Mining Development Company, Lda., continua uma promessa e nos dias que correm os representantes da firma já nem falam de horizontes temporais para a concretização desta promessa.

“É claro que andam a mentir para nós”, ajuíza Bernardo Vitorino.

Local de extração de areias pesadas em Olinda

Os moradores afirmam ainda ao Redactor que, com a chegada da empresa, várias promessas foram feitas, mas não estão a ser cumpridas devidamente. “Reclamamos que os espaços para o cultivo que nos deram estão distantes, pois estão a cerca de cinco quilómetros e não temos condições de ir até lá,  e ainda não se pronunciaram,  para a nossa subsistência muitas vezes alugamos machambas [campos agrícolas] para ter alguma coisa para nos alimentarmos”, disse Mendes Americo, agricultor e reassentado em Olinda.

Diante deste contexto, o administrador de Inhassunge, Bernardo Cutane, explica que, “na verdade, a empresa ajuda-nos, mas nem sempre pauta pela seriedade, porque demora no cumprimento das suas responsabilidades sociais, o que gera revolta no seio da comunidade que muitas vezes se vê enganada.

É nestas casas que estão reassentadas algumas das pessoas afectadas pelo projecto

Convidado a dar a sua versão, um representante da mineradora chinesa declinou fazer comentários em torno das lamúrias dos afectados e do governo local, sob a alegação de que não tinha na altura tradutor fiável para intermediar a conversa com a equipa de reportagem do jornal Redactor.

De referir que a empresa de exploração de areias pesadas Africa Great Mining Wall Company, Lda., opera no sector mineiro na província da Zambézia desde 2006, extraindo e exportando o produto principalmente para o mercado chinês.

Em 2014, o Governo moçambicano atribuiu à empresa DUAT para a exploração de areias pesadas, numa área de 16.463, 43 hectares, abrangendo um total de três distritos, designadamente Nicoadala, Chinde e Inhassunge (onde se situa Olinda).

NOÉMIA MENDES, (texto e fotos), em Inhassunge

Este artigo foi publicado em primeira mão na edição em PDF do jornal Redactor do dia 08 de Março de 2024.

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