Multiplicador de crédito

Aprendemos desde a escola primária que a operação da multiplicação é aquela que faz aumentar algo tantas vezes conforme o número  que colocamos à frente do sinal de vezes, que se confunde com o “x”. Assim quando queremos que tenhamos laranjas suficientes para 20 pessoas, fazemos o número de laranjas que possuimos naquele momento vezes 20 (Y laranjas X 20 pessoas = 600, supondo que o Y equivale a 30 laranjas).

            Suponhamos que alguém pretende adquirir, hoje, um automóvel. Mas não dispõe, hoje, de dinheiro para o efeito. Então recorre ao banco. Este proporciona-lhe dinheiro. Este dinheiro não existia em circulação na economia. Através do crédito o banco injectou dinheiro na economia. Assim o crédito teve um efeito “aumentador” do dinheiro em circulação na economia. Portanto, quando os bancos concedem créditos estão a multiplicar ou aumentar dinheiro na economia. Aumentam dinheiro sem o recurso à impressão de novas notas ou a cunhagem de novas moedas.

            Quando beneficiamos de um crédito de um banco comercial estamos a agir como agentes co-geradores de mais moeda para dentro do circuito não bancário. Quanto mais facilidades tivermos em obter um crédito bancário, mais contribuimos para o aumento de dinheiro na economia.

            Mas o que é afinal Multiplicador de Crédito ou Multiplicador de Moeda? O Multiplicador de Crédito ou Monetário é um instrumento utilizado no Sistema Financeiro, neste caso concreto, na banca, para aumentar a oferta de moeda na economia. Este Multiplicador de Crédito ou Monetário determina o quanto os bancos conseguem “multiplicar” os dinheiros que recebem em depósitos.  

            O multiplicador do crédito é um “ratio”, um índice, enfim, como queiramos chamá-lo, através do qual os bancos comerciais fazem crescer a quantidade de moeda em circulação na economia. O multiplicador bancário ou multiplicador monetário ou, ainda, “efeito multiplicador do crédito” corresponde à relação entre oferta de moeda e a base monetária existente em determinado momento no sistema económico. Traduz a capacidade de os bancos de ampliar a base monetária (M0, M1, M2, M3, M4 , tema por nós abordado na semana passada) através do crédito. O Multiplicador de Crédito ou Monetário é, repetimos, uma ferramenta utilizada pelos bancos para ampliar a oferta de moeda numa economia. Quando depositamos 100,00 Meticais num banco, ele não é obrigado a manter todo este valor em conta. Ele goza da prerrogativa (porque não é obrigado a fazê-lo) de poder emprestar uma parte deste dinheiro, fomentando o crédito à economia.

O valor que o Banco Comercial pode emprestar depende da Taxa de Reserva Obrigatória  – de onde nasce o chamado Depósito Obrigatório ou Reserva Obrigatória – estabelecida pelo Banco Central, no nosso caso pelo Banco de Moçambique. O Depósito Obrigatório ou Compulsório é a parte ou parcela do Depósito Bancário que os Bancos Comerciais são obrigados a entregar, compulsivamente, à guarda do Banco Central. A fórmula mais básica para encontrar o valor do Multiplicador de Crédito ou Monetário é a seguinte:

•         M = 1 / R (como se poder ver um “ratio” ou índice ou relação entre duas realidades distintas, comparando-as)

•         M = Sendo o próprio Multiplicador de Crédito ou Monetário

•         R = Sendo Taxa do Depósito Obrigatório ou Reserva Obrigatória

Depósito Obrigatório: o que é e como funciona este mecanismo?

Ou seja, o Multiplicador Bancário, como também pode ser chamado, é o inverso da Taxa de Depósito Obrigatório. A Taxa de Depósito Obrigatório, incidindo sobre o Depósito captado pelo Banco Comercial, resulta num montante que o Banco Central (Banco de Moçambique) exige que o Banco Comercial mantenha como Reserva Obrigatória ou Depósito Obrigatório.

Através deste exemplo veremos como esta engrenagem funciona, de facto:

Por exemplo, suponhamos que esta taxa de Depósito Obrigatório seja de 20%. Se depositarmos 100,00 Meticais no Banco Comercial, ele será obrigado a manter 20,00 Meticais como Reserva Obrigatória, e os 80,00 Meticais que sobram poderão ser utilizados para conceder empréstimos.

            Seguindo neste exemplo, uma taxa de 20% aplicada à fórmula do multiplicador bancário mostra que:

•         M = 1 / 0.20 = 5

            Ou seja, para um Depósito Obrigatório de 20%, tem-se um multiplicador de 5. Desta forma, 100,00 Meticais aplicados no banco tornam-se em 500,00 Meticais, pois:

•         5 x 100 = 500 Meticais

Como dito anteriormente, o multiplicador da base monetária pode ser utilizado como um óptimo instrumento de política monetária pelo Banco Central. Tanto no caso de Políticas Expansionistas, onde se busca aumentar o crédito da economia. Quanto no caso de Políticas Contraccionistas, quando se busca conter o crédito disponível.

Políticas Monetárias Expansionistas – Encharcamento da economia com economia. Imagine-se um caso em que o Banco Central deseja estimular a economia de um país para vencer uma crise económica (favor volte a ler o comunicado do CPMO – Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique do dia 27 de Março de 2024). Para isto, convém muitas vezes elevar o crédito disponível, de forma a estimular o consumo e o aquecimento da economia. Para isso, o Banco Central pode reduzir a alíquota da taxa compulsória vigente. Lembre-se que, no exemplo anterior, com a taxa compulsória em 20%, o multiplicador da moeda assumia valor de 5 vezes. Porém, o que aconteceria se a taxa compulsória fosse reduzida para 10%? Para descobrir, basta aplicar a fórmula apresentada anteriormente:

            •         M = 1 / 0.10 = 10

Portanto, o valor do novo multiplicador da moeda é de 10 vezes. Ou seja, um depósito de 100,00 Meticais agora representam 1.000,00 Meticais adicionados à economia, frente aos 500,00 Meticais anteriormente. Dessa forma, o Banco Central consegue fazer com que se injete dinheiro na economia e o consumo se desenvolva.

Políticas Monetárias contraccionistas  – Enxugamento do excesso de dinheiro na economia. Assim, como uma redução da taxa compulsória aumenta o valor do multiplicador, uma elevação da taxa diminui directamente o mesmo. Suponha que o Banco Central, para conter um avanço desenfreado do crédito, resolve elevar a taxa compulsória, que antes estava em 20%, para o patamar de 40%. Ao fazer isso, o novo multiplicador será:

            •         M = 1 / 0.40 = 2,5

Ou seja, 100,00 Meticais aplicador a esta economia agora resultará em um total de 250,00 Meticais. Frente a um total de 500,00 Meticais quando a taxa estava em 20%. Assim, o Banco Central consegue conter um avanço desenfreado da economia e possivelmente até inibir uma crise.

Conclusão sobre o multiplicador monetário  – É bastante interessante notar que os bancos não guardam todos os recursos investidos na instituição. Isto ocorre pois essas instituições tem como uma de suas funções estimular o crédito da economia, e isto se dá justamente através do multiplicador monetário.

ANTÓNIO MATABELE *

*   Economista

Este artigo foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 12 de Abril de 2024, na rubrica de opinião denominada N’siripwiti – gato do mato.

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