Pemba, onde não há água!

Não sei quanto tempo passa, mas lá se vão meses que tenho visto este cenário de falta de água potável na famosa Terceira Maior Baia do Mundo e 1ª da África (Pemba), a capital da Província de Cabo Delgado. Parece haver contraste, não é? Pois, a cidade é meramente rodeada pela água, mas dizem que não tem água para bebe. Aliás, tem, mas não para todos.

Logo pelas 06 horas, quando eu regressava da minha caminhada de ginástica pela Rua 12 do Bairro Cimento, deparei-me com esta turva situação, a bárbara batalha para o alcance de água. Nos meses bem longincos, o problema era de ter água potável. Agora a questão já não é de ter água potável ou não, mas sim água.

Aprendi na 4ª Classe que sem água não há vida, e hoje entendo muito bem aquele ensinamento teórico porém, o mau para mim é que não é aquela teoria que vejo na prática. Hoje, sem água ainda há vida, mas bom, deixe-me esboçar o que fui vendo quando regressava da ginástica matinal.

Vi senhoras, acompanhadas de seus filhos com galões, bacias e baldes, procurando a água de porta em porta, de casa em casa, naquela zona considerada nobre da cidade, pois em algumas casas tinha água e saía frequentemente.

Doía-me ver as mamãs e as crianças que se deslocavam de vários bairros “próximos” daquela zona, mas que não são próximos quando se trata de carregar bacias de água na cabeça, ou carregar nas mãos galões de 25 litros para caminhar da Rua 12 do Bairro Cimento para Paquitequete, Ingonane, Natite ou Cariacó, só para citar alguns casos.

Algumas residentes de Pemba buscando água em casas de terceiros
Algumas residentes de Pemba buscando água em casas de terceiros

Eu parei por ali durante quase 30 minutos a olhar por aquele triste cenário, e como se não bastasse, via as mamãs “indo” e “voltando” no mesmo itinerário, sem água ainda. O mais grave é que vi também, algumas meninas (alunas?!) sentadas nos seus galões em alguns passeios, sem saber para onde ir, e sem saber de onde vinham algumas pessoas que voltavam com a água. O mais triste ainda, é ver as mamãs e crianças a perseguir alguém que tem galões e/ou baldes pensando que ele conhece alguma fonte de água mas, em vão!…

Na minha casa a situação não difere, estamos há longo tempo sem água, e às vezes temos que fazer uma ginástica para conseguir a água na zona da Expansão, onde existem algumas famílias por ali com os seus furos de água.

O mais incrível é que o fornecedor da água, por vezes não deixa clareza na actualização das informações sobre a falta deste líquido precioso. Para vislumbrar ainda, existe uma informação que circula de “boca-em-boca’’, dizendo que a distribuição da água seria feita em escala pelos bairros, mas não sei dizer se realmente isto acontece.

Um dia achei que era uma piada quando, na minha zona, havendo corte no fornecimento de água há meses, ouvi pela rádio que no dia seguinte haveria corte no fornecimento do precioso líquido por uma roptura na tubagem. Fiquei pensando: “será corte ou reestabelecimento?”.

Mais um cenário de busca desesperada da água em Pemba
Mais um cenário de busca desesperada da água em Pemba

Em suma, podemos viver com a falta de transporte na cidade, mas pelo menos ter água para limpar as poeiras que recolhemos nas nossas ruas e estradas (exemplo Praia do Wimbe – Chuiba);

Podemos não ter carteiras para sentar nas escola, mas pelo menos ter água para lavar melhor a roupa suja depois de sentar no chão e não sermos confundidos com marginais;

Podemos não conseguir ter emprego, mas pelo menos ter água para “empurar” os graus de mandioca-seca mastigada, conseguida com a nossa agricultura de enxada de cabo curto;

Podemos não ter dinheiro suficiente para comprar comida, mas queremos a água, pois “sem água não há vida”.

Para terminar, me despeço deste choro e me junto a todos os que têm a falta da água, clamando bem forte: “queremos água!…”.

Joel Atanásio Amba *

* É estudante de Licenciatura em Engenharia Civil, na Universidade Lúrio de Cabo Delgado, actual Presidente do Núcleo dos Estudantes da Faculdade de Engenharia da UniLúrio, natural da Cidade de Pemba.

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Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de  20 de Setembro de 2018 na rubrica OPINIÃO

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