Profissão? Põe “jornalista”!

Profissão? Pode pôr “ jornalista ”! – Tem sido recorrente esta pergunta, seguida por esta resposta.

É o que dá quando num determinado país uma determinada profissão não se faz respeitar, por quem de direito, ou que é suposto.

Efectivamente, nos dias que correm, em Moçambique, qualquer frustrado na vida vira “jornalista”, e por incrível que pareça, colocação não lhe falta nas Redacções e em menos de uma semana está nas câmaras de tv, diante de um microfone de um canal de rádio e/ou a assinar numa peça nas “centrais” ou capa num jornal qualquer.

Os mais sortudos até estão a liderar ou a assessorar ONGs ligadas à media ou instituições que se entregam a actividades da mais variada índole, mas, sempre, sob a capa de jornalistas num escandaloso elogio à incompetência.

Como em todas as esferas onde campeiam “pára-quedistas”, na passada quarta-feira, 11 de Abril, dia consagrado ao Jornalista Moçambicano, foi só ver esta escumalha em bicos de pé a liderar esta e mais aquela iniciativa, sob olhar impotente e em algum momento envergonhado da maioria dos jornalistas sérios, que por vezes sentem um cavado desconforto em frequentar os mesmos ambientes já poluídos por esses malabaristas que nem fazem a mínima ideia do que é rabiscar a mais elementar notícia, para não falar da eventualidade de alguma vez terem ouvido falar de um Ricardo Noblat ou dos seus princípios básicos sobre jornalismo, quanto mais sobre as reflexões de Tom Wolfe para preservar a carreira jornalística como profissão ilibada e augusta.

Espantoso, mas são esses mesmos aventureiros que não se cansam de, sempre que podem, dirigir críticas e tentar dar aulas aos jornalistas de verdade. Um regabofe de primeira água! É o mesmo que falar de um “historiador” que nunca ouviu falar de Marc Bloch ou de um “economista” que nunca viu a capa da principal obra de Nordhaus Samuelson…

E a palhaçada nesse que devia ser um dia de reflexão de verdadeiros jornalistas foi coroada por declarações oportunísticas até de facínoras que mais de metade da turma dos profissionais há muito os identificou como responsáveis morais e materiais pelos raptos, torturas e até morte (até prova em contrário) dos que exercem o seu direito de cidadania plena e fazem da busca e difusão de informação o seu modus vivendi. Foi, infelizmente, um autêntico festival de travestis.

Oxalá um dia esses estupores todos sejam expurgados do seio dos jornalistas e devolver à classe o respeito e dignidade que já teve e prevalece noutros cantos do planeta.

Tenho noção plena de que estou a sonhar alto demais, mas acredito que se não for na minha e/ou na próxima geração, um dia lá se chegará, nem que seja na próxima encarnação, se é que ela será uma realidade. Tudo deverá começar pela unidade dos jornalistas, de facto, e colocar de lado a mania de protagonismos exacerbados de alguns, atitudes que apenas conduzem a todos à sarjeta, para o regalo dos patifes.

REFINALDO CHILENGUE

Este artigo foi publicado em primeira mão na versão PDF do jornal Correio da manhã, edição de 13 de Abril de 2018, na rubrica semanal TIKU 15!

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