Tenho esperança

Olhando pelas cores escuras nas paredes dos muros e prédios da cidade de Maputo, tenho a esperança que um dia o escuro passará para a história. Contaremos essa estória para os nossos netos em tom de alegria e sorriso. 

Quando páro nas bermas das estradas esperando por um “chapa” não importando o destino, olho nos olhos das pessoas e encontro desespero, uma gota de lágrima no canto do olho, almejo esperança que um dia teremos carros bons com boa gestão na área de transportes e contaremos aos nossos filhos com tom de tristeza.

Tristeza pelos apertos que sofríamos. Empilhamento como se sardinha fôssemos. Falta de respeito dos cobradores e motoristas. Aquele espaço lá na frente que só o motorista escolhe quem senta como se de banco dos réus se tratasse. Aquilo passará para a história e iremos rir insistentemente. Enquanto os donos dos carros velhos foram obrigados a guardá-los. Carros ou latas velhas? Sei lá!

Quando olho para as nossas mães que correm de um lado para o outro sendo afugentadas pela Polícia Municipal que se comporta como cães raivosos perseguindo quem busca algo para a sua sobrevivência, tenho a esperança de que um dia teremos policiais humanos que se compadecem com a dor do outro. Não policiais pau mandados que apenas a palavra “ordem” tem sido o seu estandarte. 

Quando olho para as crianças, adolescentes nas ruas andando como fedelhos sem as suas mães, as lágrimas escorrem no peito. Molham as sobrancelhas e o cérebro conturba-se, as mãos tremem, os olhos encovam-se, o coração encurva-se e a esperança desnasce. É a dor de um sobrevivente da miséria causada propositadamente. 

Olho para as adolescentes inundando as discotecas, adultas em frente às casas de prostituição esperando por alguma sorte de um homem que as chame para apenas ter um pão no dia seguinte, vejo que o Estado faliu e o Governo prostituiu as nossas irmãs, drogou os nossos irmãos e infantilizou os nossos pais. É o grito de um sobrevivente da pobreza extrema. 

Nas paragens, olho com atenção para quem carrega quem. Carros não licenciados ao serviço de transporte de passageiros, fazem isso como forma, primeiro, de ajudar os outros, o que é bom e, segundo, ganhar algo para proteger os seus salários. É o empreendedorismo de um desesperado.

A esperança na cidade de Maputo não nasce, ela é obrigada a nascer, ou seja, ela sai a cesariana nas mentes dos moradores. Não há quem tem esperança na cidade de Maputo, todos esperam por um milagre que não sabem de onde virá e com quem. Por isso, há negociações nas refeições. Quem almoça, não janta e quem quer dormir tranquilo, apenas matabicha às doze horas para garantir que o jantar seja condigno. 

Os orvalhos na cidade ejaculam nas ervas, porém, elas não engravidam, ou seja, não há nada na cidade de Maputo. Os choros são demasiados e a corrida pela vida se estende aos extremos. Veja só os buracos que a cidade oferece aos seus munícipes. Capital ou capitania? 

Não há luz, se não um palito de vela no canto da casa que ilumina quem não vê. Não há sombra se não um decalque nas extremidades dos dedos. Veja nas manchas dos tectos falsos nas casas que parecem balas quase furando o tecto. É uma mensagem de dor e miséria. O desfuncionamento das instituições do Estado é um sinal inequívoco de um estado capturado pelas vontades de quem parece dirigir algo.

Viu algum prédio pintado nos últimos vinte anos? Dê uma volta pela cidade, olhe atento à cidade, sente em algum lugar e raciocine. Chora como Neemias chorou. Seja como Jesus quando triunfalmente entrou em Jerusalém e viu a casa do pai. 

Lute como Davi, Neemias, Jesus, para salvarem o que deles era de direito. Saia do comodismo e seja parte da história desta cidade e, quiçá, deste país em decadência. 

Você é a solução dos problemas deste país e a esperança das gerações vindouras. O que hoje fizer, amanhã será lembrado. O que hoje não fizer por medo, amanhã será perpetuado e virará sintoma.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

Este artigo foi publicado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 24 de Abril de 2024, na rubrica OPINIÃO.

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