Na fila de maheu

Não sei se chamo de maheulândia, mas na cidade de Maputo há um lugar que só se especializou na venda de maheu. Pessoas de todas as idades, credos ou posição social por ali passam e adquirem aquele líquido. É o maheu da cidade de Maputo.

Há vezes, não poucas, páram carros e vão comprar. Uns aproveitam o avermelhar do semáforo para adquirir a sua garrafa de maheu. Mas o que me espantou não é o local da venda deste líquido e nem os preços e muito menos os carros que param. Foram dois agentes da Polícia da República. 

Eram dois. Sim, dois. Isso mesmo, dois.

Um homem bem merecido ao lado de uma moça meio gorda, trazia dois cintos numa cintura enorme e com olhos de desconfiança. Reparavam de um lado para o outro com conversas meio estranhas. Estavam para adquirir duas garrafas de maheu que lhes custaram 70 mt na razão de 35 cada. Tinham três notas de 20 e uma moeda de 10. Pagaram e puseram-se em marcha lenta como heróis na fila de maheu.

Queriam duas garrafas de maheu. Era um almoço completo aquele num posto de trabalho. Não sei se alguém lhes tinha dado dinheiro ou o Ministério lhes deu para degustar da famosa maheuada. Aí nasceu a minha pergunta. Como sejam estes a espancar a população quando quer se manifestar para o bem de todos? São estes ou cópia deles?

Afinal comem o que o povo come? Sentam onde o povo senta? Negoceiam para o rebaixamento do preço de algum produto? Quis ali perguntar o que estavam a fazer num local que eles não podem ficar? Mas a arma que o jovem polícia portava era de guerra e não me deu oportunidade de tecer algum comentário.  

A minha conclusão foi: eles também sofrem, apenas a cabeça deles foi lavada e querem defender os seus salários que também não têm. Há um apelo aqui para esses senhores. O país não se faz com medo e quem tem arma tem poder sobre tudo e todos. 

Espancar manifestantes é perder tempo, pois no dia que a população decidir, não há arma que a pare. Não há farda que a intimide. Não há carro blindado que a neutralize e não haverá gás lacrimogéneo que a amoleça. Se todos estamos na fila de maheu, é que todos sofremos as consequências de um governo inoperante. 

Polícias ou militares, vamos todos de mãos dadas salvar este país. Com golpe ou marchas, com desobediência civil ou não. Em unanimidade, procuremos fórmulas próprias. Fazendo isso, ninguém precisaria de perguntar o que estamos fazendo na fila de maheu. Todos iríamos felizes na maheulândia para degustar das iguarias da terra. A terra é nossa e ninguém pode vir estragar o que é nosso. Todo aquele que não se esforça pelo bem dos moçambicanos é um inimigo não declarado.

Todos saibam que aqueles irmãos armados que espancam a população nas marchas também sofrem e chupam o mesmo dedo na fila de maheu. Sobem os mesmos chapas empilhados com as fardas nas pastas. Caem nas mesmas buracadas causadas pela incompetência dos seus patrões. Apenas a cabeça deles é que está furada ou eles permitem que ela seja furada. 

Às costas dos seus donos, eles murmuram. Negoceiam preços como nós fazemos. São gente como nós. Só não sabem o que fazem, são judeus na sua terra e fariseus em tudo o que fazem. Eles também imploram o cobrador para sentar. São como nós aqueles, porém, foram lavados cerebralmente. 

Na fila de maheu, a história irá se repetir e vou pessoalmente assistir quantos almoços de maheu eles vão comer. Não sei se comem ou bebem esse maheu quando se trata do seu almoço. Só sei que compram e saem dali com almoço feito.

A vida deles é tão dura quanto um prisioneiro numa cama de concreto sem banheiro e nem direito ao banho do sol. Os nossos policiais são presos ambulantes carregando ferros pesados nos ombros.

JÚNIOR RAFAEL OPUHA KHONLEKELA

Este artigo foi publicado foi publicado em primeira-mão na versão PDF do jornal Redactor, na sua edição de 23 de Abril de 2024, na rubrica OPINIÃO.

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